SURPRESAS DO DIA A DIA: A NOSSA ROTINA COMO PROFISSIONAIS DE APOIO

Somos capacitadas para atender pessoas com deficiências e com necessidades educativas específicas, proporcionando acompanhamento individualizado e/ou mediações adaptadas conforme as demandas de cada um.

Por Isabela Miranda do Amaral e Juliana Mayumi Maeda

A história de Freddy Glatt em HQ, idealizada pelo departamento pedagógico em 2019, utiliza a linguagem não-verbal para visualização e compreensão.

Este foi um ano com novidades: o primeiro com Profissionais de Apoio acompanhando as mediações educativas no espaço do museu. Podemos dizer que foi um ano de muitos aprendizados, experiências e cuidado.

A partir de fevereiro de 2024, começamos a oferecer este acompanhamento aos visitantes com demandas específicas. Eles podem solicitar este apoio no momento do agendamento ou ao chegar no espaço do Museu, sendo estudantes em grupos escolares ou visitantes individuais. Sendo assim, gostaríamos de compartilhar um pouco mais sobre o nosso trabalho.

Mas afinal, o que é um Profissional de Apoio (PA)?

Somos capacitadas para atender pessoas com deficiências e com necessidades educativas específicas, proporcionando acompanhamento individualizado e/ou mediações adaptadas conforme as demandas de cada um. Os visitantes têm a liberdade de escolher entre continuar com o grupo, solicitar acompanhamento e buscar auxílio de uma mediação adaptada. Nela, apresentamos materiais exclusivos que garantam uma experiência significativa e acessível a todos. A prioridade desse profissional é certificar que todos os visitantes possam usufruir da estrutura, experiência e dos conteúdos do Museu.

Ao longo deste ano, atendemos 194 estudantes com demandas específicas, sendo a maioria do Transtorno do Espectro Autista (91 estudantes). Além deste, recebemos também pessoas com Síndrome de Down, Deficiência Visual, Deficiência Intelectual, Nanismo, Surdez, pessoas que não se sentiram bem, entre outros. Foram muitos atendimentos que nos ensinaram e inspiraram em práticas mais inclusivas no museu.

E na prática, como funciona?

Para descrevermos com mais detalhes como é desenvolvido este trabalho, vamos exemplificar os direcionamentos realizados a duas demandas: Deficiência Visual e Transtorno do Espectro Autista (TEA). Assim que chega uma escola com um estudante com deficiência visual ou TEA para visitar o Museu, a PA se apresenta descrevendo sua função e se disponibiliza para acompanhar estudantes com demandas específicas.

No caso de um estudante com deficiência visual, dada a apresentação, a PA conversa com o mediador para que ele inclua em sua fala descrições dos ambientes, objetos, imagens expostas no museu e de quem participa da visita. Os mediadores são devidamente capacitados para isso. Além disso, a PA convida o estudante a tatear as esculturas em exibição no espaço externo da instituição e também a interagir com outros objetos do nosso acervo.

Já no caso de estudantes com TEA, os direcionamentos são vastos e diversificados, dada a abrangência do espectro autista e os níveis de suporte. Buscamos conhecer e conversar com o estudante para compreendermos a maneira com a qual a visita pode ser tornar mais agradável. Por exemplo: quando o estudante escolhe acompanhar a visita com o grupo, mas relata que é sensível a estímulos sonoros e visuais, buscamos avisá-lo com antecedência sobre as salas e pontos do espaço com maiores estímulos para que ele possa se preparar, e se necessário, afastar-se do local.

Com estudantes com maior nível de suporte, realizamos visitas adaptadas com o uso de recursos diferenciados. Para a escolha destes recursos, conversamos com o estudante e seus professores para compreender o que faz mais sentido para sua aprendizagem. Entre os recursos utilizados, temos a história de um sobrevivente do Holocausto apresentada no formato de História em Quadrinhos.

Idealizada pelo departamento pedagógico em 2019 e ilustrada pelo tradutor e intérprete de Libras Luiz Gustavo Paulino de Almeida, a trajetória do sobrevivente Freddy Glatt é transmitida aos visitantes a partir de imagens, utilizando da linguagem não-verbal para visualização e compreensão. O uso deste recurso garante a transmissão do conteúdo do Museu sem a obrigatoriedade da linguagem escrita, sendo uma ferramenta valiosa para assegurar a assimilação da nossa mensagem.

Além deste recurso visual, também utilizamos as animações do projeto “Milhões de Vozes, pois pessoas do espectro autista frequentemente respondem de maneira mais eficaz a estímulos visuais. Dessa forma, as animações podem tornar o conteúdo mais acessível ao utilizar cores, imagens e movimento, contribuindo para capturar e manter a atenção. Isso facilita a compreensão de maneira visual e dinâmica. E também, as animações podem exemplificar de forma concreta ideias, processos e situações, oferecendo uma representação clara de conceitos que poderiam ser difíceis de entender apenas por explicações verbais, o que é especialmente importante para estudantes não verbais.

Por meio destes direcionamentos, procuramos promover experiências positivas aos estudantes, garantindo a eles o acesso pleno ao conteúdo do Museu, respeitando sua autonomia e individualidades. Nosso objetivo é proporcionar um ambiente inclusivo e acolhedor, onde cada estudante possa explorar, aprender e interagir de maneira significativa com as exposições.

Formação

Após o lançamento do material didático “Cliques e Memórias: 20 fotos icônicas, para aprimorar ainda mais nossas práticas cotidianas e trabalhos desenvolvidos tanto no Departamento Pedagógico quanto para o de Acessibilidade, realizamos uma disciplina na Universidade Federal do Paraná (UFPR) chamada “Desenho Universal de Aprendizagem”, nas quintas à tarde, em que refletimos sobre espaços e atividades educacionais inclusivas.

Podemos dizer que a função que desempenhamos no dia a dia nos traz certo frio na barriga. Cada visita com demandas específicas é um caso diferente e em nossos pensamentos sempre temos a preocupação de: “qual recurso vou utilizar?”; “como é a personalidade do estudante que vou atender?”; “será que tem algo aqui que pode incomodar?”. Apesar de tudo, isto nos ensina, e MUITO! Os 194 estudantes, com sua personalidade e jeito de ser, nos ensinaram e nos desafiaram a promover um espaço cada vez mais inclusivo.

Por fim, com o apoio de toda a equipe do Museu do Holocausto, podemos concluir que aprendemos e promovemos ao longo desse ano um espaço que busca acolher e que está aberto a diversidade e a inclusão.

ISABELA MIRANDA DO AMARAL E JULIANA MAYUMI MAEDA

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