Ao longo do século XIX, diversos países se lançaram na corrida imperialista para explorar, principalmente, a África e a Ásia, com resultados terríveis para as populações locais.
A Alemanha se interessou tardiamente e o Império colonial alemão era pequeno se comparado a outros países europeus – territórios correspondentes, principalmente, aos atuais Togo, Camarões, Tanzânia, Burundi, Ruanda e Namíbia.
Ainda assim, o imperialismo alemão no continente africano teve impactos no posterior desenvolvimento do nazismo. Ele foi um laboratório de ideias e práticas que mais tarde seriam empregadas pelos nazistas: massacres impessoais possibilitados pela junção do racismo científico – usado para legitimar a exploração das populações locais – com a burocracia administrativa. A noção de um “direito” de expansão para assegurar o desenvolvimento da própria nação, subjugando outras populações, também foi desenvolvido neste período e, mais tarde, aplicado pelos nazistas para seu expansionismo dentro da Europa.
Sob o nazismo, o racismo, de um elemento legitimador de morticínios visando a exploração, viraria o motivo em si da perseguição a judeus e a outras populações. O Holocausto não é uma repetição dos massacres coloniais, mas dificilmente seria possível sem estes.
O Império colonial alemão ainda criou um impacto adicional no imaginário popular que geraria apoio ao nazismo. A perda das colônias ao fim da 1ª Guerra Mundial era uma das fontes de ressentimento na sociedade. Os países vencedores da guerra alegaram que deveriam passar a controlar as antigas colônias alemãs, pois a Alemanha tratava muito mal as populações locais – o que era verdade, mas mascara a brutalidade do colonialismo dos outros países europeus. A perda foi entendida como uma humilhação por parte da sociedade alemã, a qual os nazistas prometiam vingar.
Este cartão foi escrito em Maltahöhe, cidade fundada em 1899 como uma estação policial da Schutztruppe – tropas coloniais responsáveis por cumprir as ordens dos colonizadores e reprimir focos de resistência local. Localizada em uma das principais colônias alemãs (Deutsch-Südwestafrika [África do Sudoeste alemã]), a cidade situa-se atualmente na Namíbia. O selo postal é de um modelo que circulou a partir de 1900, na qual consta o nome da colônia e a imagem do Keiseryacht Hohenzollern, o navio oficial do imperador alemão.
A fotografia era uma ferramenta utilizada para que os alemães conhecessem as colônias. O enfoque recorrente dessas imagens era destacar elementos da natureza, mostrando a África como um espaço selvagem, contraposto à civilização europeia. Chama a atenção a ausência de pessoas na foto, transmitindo a ideia de um espaço vazio, disponível à exploração dos europeus. Os povos africanos eram vistos como mais um elemento da natureza a ser explorado e um empecilho ao desenvolvimento caso resistissem a cooperar.
Este mapa, publicado originalmente em 1885, no livro The Universal Geography, do geógrafo francês Élisée Reclus, representa a “Herero Land”, ou seja, a terra dos Herero. Um ano antes, a região, na atual Namíbia, havia se tornado uma colônia alemã.
Anarquista e participante da Comuna de Paris de 1871, Reclus defendia, em suas obras geográficas, a igualdade entre os povos. Elas demonstravam que, mesmo à época, havia contestação ao colonialismo e ao racismo.
Os governantes alemães, no entanto, pensavam diferente. Em 1904, os herero se rebelaram contra o domínio alemão, que ocupava suas terras e os explorava. A revolta, liderada por Samuel Maharero, foi duramente reprimida: os que não foram mortos em combate foram enviados a campos de concentração. Estima-se que cerca de 80% dos herero e dos nama (ou namaquas) – outro povo que se rebelou – foram exterminados no que é considerado o primeiro genocídio do século XX.
Nas colônias, particularmente na atual Namíbia, foram gestadas ideias e práticas mais tarde empregadas pelos nazistas contra judeus, ciganos e outras populações. Em termos ideológicos, o racismo científico como elemento legitimador do massacre; em termos técnicos, o assassinato burocrático e a estrutura de extermínio.
Ao fim da 1ª Guerra Mundial, a Alemanha perdeu suas colônias. Para muitos alemães, foi uma humilhação que devia ser vingada. Nesse contexto, inserem-se publicações como esta: “O que a Alemanha perdeu em suas colônias”, de Arthur Dix (1875-1935) e prefaciado por Heinrich Schneee (1871-1949) e Theodor Seitz (1863-1949), ambos ex-governadores de colônias alemãs na África.
Nele, há saudosismo de uma suposta glória do Império Colonial alemão e preocupação em relação ao presente. A falta de colônias colocaria a Alemanha em desvantagem em relação às potências europeias e limitaria o potencial de desenvolvimento do povo alemão, que necessitaria de mais território: o Lebensraum, ou Espaço Vital. Mais tarde, os nazistas se valeriam do mesmo conceito, embora aplicado para a expansão intraeuropeia.
Dix argumentava que a Alemanha, melhor do que outras nações, desempenhava uma “missão civilizadora” na África, mensagem na qual se insere a imagem de capa. O autor, que fora filiado a um partido liberal de centro, ao fim de sua vida escreveu elogios à Hitler, que se valia dessas ideias que circulavam na sociedade alemã.
“Colônias – um campo de força da Grande Alemanha” é um anuário do Reichskolonialbund [liga colonial do Reich], órgão ligado ao regime nazista que funcionou entre 1936 e 1943. Ele se originou da fusão de organizações pró-coloniais que existiam já antes da ascensão do partido nazista. A capa aponta para um elo entre a Alemanha e suas antigas colônias perdidas.
A demanda pela retomada das colônias, embora pouco tenha se refletido em políticas oficiais, foi uma arma ideológica de grupos políticos conservadores e ultranacionalistas durante a República de Weimar, os quais, em sua maioria, viriam a aderir ao nazismo. A perda das colônias era apresentada como uma injustiça sofrida após a 1ª Guerra Mundial, símbolo da fraqueza dos políticos alemães.
Para obter apoio popular, esses grupos, entre os quais os nazistas, se utilizavam desse ressentimento e da promessa de retomar as colônias e fazer da Alemanha um grande império.