HOLOCAUSTO E EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE CRISE

Ao analisar os diferentes e complexos contextos, é possível perceber que a educação sobre o tema está mais para o plano das ideias do que da concretude das salas de aula.

Por Rebeca Serrano

Estudantes em formação pedagógica do Museu do Holocausto de Curitiba. Créditos: Maringas Maciel.

    O Holocausto, genocídio perpetrado pelos nazistas e seus colaboradores durante o período da Segunda Guerra Mundial, não é um assunto acabado. Suas consequências e desdobramentos ainda reverberam em diversos países, incluindo o Brasil, mesmo depois de quase oito décadas após o fim do conflito militar. O tema faz parte da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento fundamental e essencial para a Educação Básica de todo o país, que orienta e objetiva a construção de uma sociedade mais democrática e inclusiva e também aparece nos currículos estaduais e materiais didáticos diversos e inovadores.

    A relevância da educação e seu papel na prevenção de novos genocídios é enfatizada ad aeternum. Entretanto, ao analisar os diferentes e complexos contextos em que eles se inserem, é possível perceber que a educação sobre o tema está mais para o plano das ideias do que da concretude das salas de aula.

    Em todos os aspectos do sistema educacional há lacunas – seja nas defasagens em habilidades acadêmicas e socioemocionais dos estudantes e/ou na baixa qualidade de formação das licenciaturas e programas de formação continuada de professores. Também não existe uma política atual e crítica de Estado em relação aos objetivos reais da formação básica, e muitos lugares de poder estão ocupados por mentalidades orientadas para a perspectiva da educação pública como um gasto e não um investimento.

    Levando em consideração a guerra desencadeada pelos acontecimentos do 7 de outubro de 2023 no Oriente Médio, inúmeros aspectos do Holocausto têm sido distorcidos e banalizados, no universo das redes sociais e também por grupos políticos de orientações políticas e ideológicas diversas. A falta de conhecimento sobre os fatos históricos e a ausência da empatia nas relações humanas contribuem para o caos e a desinformação na sociedade. Desse modo, a educação como construção de sujeitos críticos e que valorizem a diversidade e os direitos humanos nunca se fez mais importante.

    Ensinar a Shoá é necessário para aprender a resistir aos discursos de ódio, à banalização da violência, à alienação e à brutalização. Por isso, em 2025, ainda devemos falar sobre os fatos históricos do passado, estudar os processos que culminaram em milhões de mortes e os sinais que podem ser identificados como semelhantes aos que desencadearam os totalitarismos do século XX, tanto em solo europeu quanto na América Latina.

    Repetidas vezes se recorre ao Holocausto como símbolo do mal absoluto para apontar o inimigo. Esse uso seletivo da memória tem contribuído para a banalização e distorção dos fatos históricos, além de desrespeitar as vítimas. Porque vivemos num contexto de fragilização das instituições democráticas, onde o ódio, o antissemitismo e o racismo ainda estão presentes e permanecem impunes, enfrentar negação, a banalização e a distorção do Holocausto é uma questão ética e política. Através da educação como formação e prática para a democracia e os direitos humanos poderemos pensar em deixar algum legado positivo para as próximas gerações.

REBECA SERRANO

Rebeca Serrano é doutoranda na USP e professora da rede estadual de São Paulo.

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