80 ANOS SEM MILENA JESENSKÁ

Milena Jesenská viveu uma vida marcada pela paixão, pela coragem e por uma inabalável crença na humanidade.

Por Salus Loch, com informações do Yad Vashem

Milena Jesenská (1896-1944), s.d. Museu Yad Vashem, Israel.

 

  Em 17 de maio de 2024, celebrou-se os 80 anos da morte de Milena Jesenská, uma figura de coragem indomável e compaixão profunda. Nascida em 10 de agosto de 1896, em Praga, então Império Austro-Húngaro, Jesenská foi uma jornalista, tradutora, escritora e ativista que deixou uma marca indelével na história, não apenas por sua conexão com Franz Kafka, mas, principalmente, por seu heroísmo durante um dos períodos mais sombrios da humanidade.

  Filha de um dentista e professor conservador, Jesenská teve uma relação tensa com o pai, especialmente após a morte da mãe, quando Milena tinha apenas treze anos. Sua adolescência foi marcada pela rebeldia contra os padrões estabelecidos, culminando em sua decisão de abandonar os estudos de Medicina para seguir seu coração e sua paixão pela escrita e pelo jornalismo.

Amor, literatura e resistência

  Aos 20 anos, Jesenská conheceu o crítico literário judeu Ernst Pollak, introduzindo-a no círculo de intelectuais tchecos e, mais notavelmente, a Franz Kafka. Apesar das objeções de seu pai, ela casou-se com Pollak e mudou-se para Viena, onde começou sua carreira como jornalista. Foi na capital austríaca que ela leu e se sentiu atraída pelas obras de Kafka, iniciando uma troca visceral de cartas, que se tornaria uma das mais tocantes experiências literárias do século XX.

  Após a morte de Kafka e o divórcio de Pollak, Jesenská retornou a Praga, onde se estabeleceu como uma jornalista e editora respeitada. Com a anexação dos Sudetos pela Alemanha em setembro de 1938 e a subsequente ocupação nazista, ela se tornou uma figura central na resistência tcheca, ajudando judeus e outros perseguidos a fugir do regime de Hitler. O apartamento de Milena em Praga tornou-se um refúgio para aqueles em busca de segurança, e ela arriscou sua vida para fornecer documentos falsos e assistência para que muitos pudessem escapar para a liberdade.

 

Preço da coragem

  Sua bravura não passou despercebida pela Gestapo, a polícia secreta nazista, que a prendeu em 11 de novembro de 1939. Após quinze meses de detenção em várias prisões, Jesenská foi deportada para o campo de concentração nazista de Ravensbrück, na Alemanha, onde, apesar das condições desumanas, continuou a oferecer apoio e conforto a seus companheiros de prisão. Fez amizade com Margarete Buber-Neumann, que escreveu sua primeira biografia após a guerra. Infelizmente, sua saúde deteriorou-se, e ela veio a falecer em 17 de maio de 1944, deixando um legado de resistência e humanidade.

 

Reconhecimento, memória e legado

  Em 14 de dezembro de 1994, o Yad Vashem reconheceu Milena Jesenská como “Justa entre as Nações”, uma homenagem à sua coragem e sacrifício. Jesenská não apenas lutou contra a opressão nazista, mas também se destacou como uma voz crítica contra a injustiça e a perseguição, mantendo-se fiel às suas convicções até o fim.

  Milena Jesenská viveu uma vida marcada pela paixão, pela coragem e por uma inabalável crença na humanidade. Sua história é um testemunho do poder do espírito humano frente à adversidade e da capacidade de um indivíduo de fazer a diferença no mundo. Ao lembrarmos de Jesenská, 80 anos após sua morte, somos lembrados da importância de defender a justiça, a compaixão e a liberdade, valores que ela encarnou com sua vida e obra.

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SALUS LOCH

Salus Loch é jornalista, escritor e integrante do departamento de Comunicação do Museu do Holocausto de Curitiba.