UNIVERSALISMO DA SHOÁ

Universalizar a memória da Shoá significa decodificar a tragédia, entender o mundo em que vivemos, dialogar com a sociedade e transformar vidas.

Durante décadas, foi criada a ilusória dicotomia entre uma visão particular do Holocausto, ou seja, exclusiva sob a ótica judaica, e uma visão universal que, segundo o historiador e professor Yosi Goldstein, “apontava para deduzir lições morais e políticas para combater o racismo, o neonazismo e a xenofobia em geral, e para fomentar o respeito aos direitos humanos”.

Há quase cerca de 80 anos, a memória da Shoá vem sendo construída. Num primeiro momento, de forma bastante particular, pautada numa noção irracional, sentimental e ritualística. Já o universalismo da Shoá pressupõe a renovação constante de um pacto coletivo de identificação dos sinais e de luta contra qualquer forma de ódio e de intolerância, contra qualquer grupo e em qualquer parte do mundo. O famoso slogan “nunca mais” corresponde a este acordo em tornar esta memória o que toda memória deve ser: útil. Nos comprometemos a, sim, manusear a memória da Shoá e utilizá-la como agente transformador.

Em outras palavras, falamos sobre a construção de uma memória da Shoá que seja universal, que atinja todos que se deparem com estas histórias, que sintam e entendam que elas fazem parte da nossa história como seres humanos. É necessário entender o legado que educadores e historiadores criaram a partir do Holocausto – que não possui lições cruas. O que importa é o significado universal que damos, que envolve a transmissão de princípios e valores como tolerância, liberdade, democracia, diversidade, pluralidade, equidade, justiça, direitos humanos, resistência, resiliência e o valor da vida.

O universalismo não significa descartar as particularidades, que são duas faces da mesma moeda. Falar sobre Shoá, entretanto, precisa estar conectado ao que vivemos hoje. É discutir sobre Racismo, violência contra a mulher, LGBTIfobia, intolerância religiosa, o próprio Antissemitismo, a inclusão de pessoas com deficiência, o acolhimento a refugiados e a outros genocídios. É debater sobre o bullying e como somos responsáveis por aqueles que nos circundam.

Para saber mais:

REISS, Carlos. Luz sobre o caos: educação e memória do Holocausto. Rio de Janeiro/RJ: Imprimatur, 2018.